quinta-feira, 8 de abril de 2010

Guerrilha Contra Anorexia. “ame seu corpo como ele é”


Quando a internet começou a ganhar força entre os jovens, sites a favor de transtornos alimentares (os “pró-ana” e “pró-mia”, pela anorexia e pela bulimia, respectivamente), chocaram ao chegar às páginas dos jornais. Agora, é a hora da revanche. Movimentos nos Estados Unidos estão se organizando para a luta anti-anorexia. E um estudo mostra: estão dando resultado.

Enquanto os sites pró-ana e pró-mia defendem que o transtorno alimentar seria, na verdade, um “direito” e um “estilo de vida”, as iniciativas contrárias afirmam que as pacientes dessas doenças são vítimas de uma sociedade injusta que valoriza um padrão de magreza impossível de ser alcançado.
O chamado “ativismo pelo corpo” é uma verdadeira guerrilha antianorexia. Uma das iniciativas maiores, o “Body Project”, reuniu mais de 1000 adolescentes para explicar como elas têm comprado a ilusão de que só as magras são felizes. Elas são encorajadas a pensar e a escrever sobre o assunto.
Em uma fase seguinte, elas fazem atos “terroristas antitranstornos” para chamar a atenção: colocam bilhetes com a mensagem “ame seu corpo como ele é” em livros de dieta e revistas de moda nas livrarias, escrevem mensagens positivas no espelho das escolas e enviam cartas de protesto para fabricantes de bonecas com medidas desproporcionalmente magras.



Resultados
Em um estudo feito na Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, os pesquisadores analisaram os efeitos de outra iniciativa do tipo: o “Student Bodies”, que reunia meninas online todas as semanas para conversar sobre alimentação saudável. Elas mantinham blogs e toda a discussão era monitorada por um psicólogo.A equipe da universidade acompanhou as meninas do grupo que tinham risco de desenvolver transtornos alimentares, por apresentarem problemas ou preocupações com seu peso. “Sua auto estima dependia muito de como elas se sentiam sobre sua forma e peso”, explicou ao G1 uma das autoras do estudo, Jamie Manwaring. E descobriu que a iniciativa deu resultado — a maioria das meninas de alto risco não desenvolveu a doença.
A constatação é surpreendente porque a anorexia é uma armadilha tão grande que muitas vezes as iniciativas de prevenção dão o resultado oposto. “É preciso cuidado até para combater a anorexia”, afirma Táki Cordás, da Universidade de São Paulo, um dos maiores especialistas brasileiros no assunto. “Às vezes, uma menina que nem pensou nisso assiste uma palestra na escola contra anorexia e bulimia e pensa ‘nossa, mas essa é uma boa idéia para eu perder aqueles dois quilos’”, explica.
Manwaring concorda, mas ressalta: “Desde que haja o acompanhamento de um profissional, fazer as mulheres conversarem sobre isso e apóia-las é uma boa coisa.”
A pesquisadora americana lembra o perigo dos sites pró-anorexia e pró-bulimia. “Estudos já mostraram que esses sites fazem mulheres saudáveis saírem com sensações ruins sobre sua imagem corporal e baixa auto estima”, disse ela. “Ainda não sabemos se as iniciativas antitranstornos realmente podem conter esse efeito, mas já detectamos que eles ajudam as mulheres que se sentem mal sobre si mesmas a ficarem um pouco melhor”, diz ela.
O especialista brasileiro defende há anos que os provedores da internet tirem essas páginas do ar. Mas reconhece que hoje o tamanho delas é muito menor do que já foi no passado. “O que sabemos, informalmente, é que as grandes líderes desses movimentos acabaram morrendo”, conta Cordás. “Elas já não estão tão organizadas como antes”, afirma.
Até hoje ninguém sabe as causas da anorexia – a única doença psiquiátrica que mata – e dos demais transtornos alimentares. Embora se reconheça o efeito do ambiente e da pressão pela magreza, é conhecido que a doença tem um componente genético. “Os genes carregam a arma, os fatores ambientais puxam o gatilho” é um ditado comum entre os especialistas na área.
A doença geralmente surge inocentemente com uma dieta que não parece ser um problema. Depois cresce e toma conta da vida da pessoas. No caso das anoréxicas, elas podem definhar até a morte, mas se recusam a comer. Os pesquisadores afirmam que para evitar a doença, a proximidade dos pais é fundamental. É recomendado que pelo menos uma refeição do jovem seja feita na presença da família. No caso de qualquer suspeita, é preciso o acompanhamento de um psiquiatra.

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